Bibliotecas nas cidades, perto de onde se mora, dão acesso a livros
- Wagner de Alcântara Aragão

- 20 de out.
- 3 min de leitura
Pesquisa da organização Poesis e experiências em cidades como Piraquara, no Paraná, em Santos, no litoral de São Paulo, confirmam importância de pontos de leitura
Todo artista tem de ir aonde o povo está, canta Milton Nascimento. O mesmo vale para os livros. E, quando eles, os livros, chegam, o acesso à leitura e as experiências com literatura se expandem.
Bibliotecas ou pontos de leitura públicos, espalhados pelas cidades, em periferias ou pontos centrais, se mostram como um estímulo e tanto. Vejamos algumas evidências.
Recentemente, a organização social Poiesis, que administra as Fábricas de Cultura do estado de São Paulo, realizou uma pesquisa sobre hábitos de leituras em bibliotecas que funcionam em oito desses espaços culturais.
A pesquisa envolveu bibliotecas nas Fábricas de Cultura da Brasilândia, Capão Redondo, Jaçanã, Jardim São Luís e Vila Nova Cachoeirinha, na capital; Osasco e Diadema, na Grande São Paulo; e Iguape, no Vale do Ribeira.
A média de empréstimos, só em 2024, foi de quase 200 livros por mês, por biblioteca. Mulheres jovens compõem 70% do público frequentador dessas unidades, ainda segundo a mesma pesquisa.
Mangás, literatura negra, indígena e LGBTQIAPN+ estão entre os principais temas de interesse. Mas há busca também por clássicos e best-sellers.
Em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, uma iniciativa recente tem atraído o público. Trata-se de uma biblioteca livre instalada no terminal de ônibus do bairro São Roque.
No modelo de biblioteca livre, os empréstimos são feitos sem necessidade de cadastro, registro, nada. Basta chegar, escolher uma obra, e retirar, com a consciência de voltar lá depois, e devolver.
O acervo é abastecido por doações, individuais ou de instituições. Há livros infantis, literatura brasileira, histórias em quadrinhos, biografias, livros científicos e didáticos. São mais de 1 mil exemplares, segundo a Prefeitura Municipal.
A biblioteca foi inaugurada em agosto. O terminal concentra o fluxo de passageiros indo e vindo de Curitiba, e mesmo de outras cidades da região metropolitana.
Estivemos, recentemente, conhecendo a unidade. A todo instante entra gente. Algumas pessoas demonstram familiaridade com o local, outras se aproximam devagar, com expressão de curiosidade. Há quem folheie enquanto o ônibus não chega, há quem escolha um título e leve emprestado. Trabalhadores, trabalhadoras, estudantes – um público de perfil variado é visto frequentando o espaço.
Também na lógica do empréstimo sem burocracia funciona o Leia Santos, na cidade do litoral de São Paulo. Com esse nome existe desde 2006, mas a origem do projeto é do final dos anos 1980, quando um ônibus foi transformado em biblioteca volante.
Hoje, funciona com um trailer. A cada semana o veículo está em um bairro diferente, de todas as regiões do município. Além da unidade móvel, há porta-livros (displays) instalados em pontos de ônibus e estação do VLT. É só retirar um exemplar, levar para ler e devolver depois.
A tendência é que, para breve, vejamos um crescimento extraordinário no número de bibliotecas pelo Brasil. É que a programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, passou a incluir, em 2023, bibliotecas comunitárias em seus projetos. Cada unidade deverá ter em torno de 500 exemplares, pelo menos.
O Ministério das Cidades chegou a elaborar uma cartilha, com diretrizes a serem seguidas na concepção dos conjuntos de moradias. A cartilha está disponível em https://www.gov.br/cidades/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/habitacao/programa-minha-casa-minha-vida/arquivos/cartilhabibliotecasMCMV_MCIDeMinC.pdf.
Mais informações:
Sobre a pesquisa da Poiesis: https://cultura.uol.com.br/entretenimento/noticias/2025/09/16/14760_estudo-da-poiesis-revela-pluralidade-nas-leituras-das-bibliotecas-da-periferia-paulistana.html.
Wagner de Alcântara Aragão é jornalista e professor. Mestre em estudos de linguagens. Licenciado em geografia. Bacharel em comunicação. Mantém e edita a Rede Macuco.
Crédito da foto da página inicial: Prefeitura de Piraquara/Divulgação. Imagem em destaque: a biblioteca livre do Terminal São Roque, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba.






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