O Google vem atualizando quase diariamente um relatório[i] que registra a variação percentual da movimentação de pessoas em diferentes tipos de lugares em relação a uma base temporal fixa[ii] que abrange as 5 primeiras semanas de 2020.
Segundo a empresa, os relatórios podem oferecer insights sobre o que vem mudando ou precisa ser mudado para melhorar políticas de combate à Covid-19 mundo afora.
Nesses relatórios, os dados sobre o Brasil aparecem consolidados para todo o país, e também segregados por Estado.
O gráfico abaixo foi construído a partir da variação percentual de pessoas em locais de trabalho em todo o Brasil.
Uma menor presença de pessoas em locais de trabalho foi considerada como uma maior adesão ao isolamento social, e vice-versa.
Se desconsiderarmos os dois picos relativos aos feriados, é possível perceber que a adesão ao isolamento social no Brasil foi iniciada logo depois do anúncio da primeira morte por Covid-19 no país, atingindo pico ligeiramente acima de 50% já na última semana de março.
No entanto, também é possível perceber que os picos semanais vem caindo a cada semana, não tendo ultrapassado 35% na primeira semana de maio.
Além desse padrão de queda, é importante notar também que a adesão ao isolamento social nos Estados é bastante heterogênea.
O gráfico abaixo mostra a diferença dos dados de cada Estado em relação aos dados nacionais, dia a dia.
Por esse gráfico, é possível perceber que há Estados onde o isolamento social se mantém mais intenso, como CE, DF, RJ, PI, AP, SE, PE e SP, por exemplo, e há Estados em que ele não se mantém tão firme, como RO, MS, MT, TO, RR, AC, PA, PR, MG e ES.
Há ainda casos especiais, como o Estado do Amazonas, onde a adesão ao isolamento social vinha bastante baixa, e depois aumentou rapidamente, possivelmente em resposta ao colapso do sistema de saúde em Manaus.
Por fim, o gráfico abaixo oferece uma intuição mais territorial sobre a diferença da adesão ao isolamento social nos Estados em relação à média nacional.
Por meio dessa rápida análise, é possível apontar pelo menos duas questões preocupantes.
A primeira é que a adesão ao isolamento social no Brasil parece estar caindo ao mesmo tempo em que assistimos um aumento no número diário de mortes.
E a segunda é que a adesão ao isolamento social é muito heterogênea no território, um fator que pode minar os esforços individuais em cada Estado, facilitando a proliferação do vírus no país.
Duas questões bastante ilustrativas da falta que nos faz um esforço de coordenação central focado no combate à epidemia.
Resta a pergunta de sempre: até quando o nosso sistema de saúde vai aguentar?
Crédito da foto da página inicial: Rovena Rosa/Agência Brasil
[i] Ver https://www.google.com/covid19/mobility/
[ii] A meu ver, esse critério de comparação com uma base temporal fixa anterior ao surto de Covid-19 fora da China torna os dados divulgados pelo Google mais robustos que outras fontes, como, por exemplo, o índice de isolamento social calculado pela In Loco, que estima isolamento social entre 25 e 40% já em janeiro e fevereiro, antes mesmo do anúncio do primeiro caso no Brasil. (Ver https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/).
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