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Business as usual no reino encantado da grande imprensa

Publicado no Manchetômetro em 25-09-2014

Os gráficos de acompanhamento diário e semanal da cobertura da mídia, agora disponibilizados na home do MANCHETÔMETRO permitem notar semelhanças e diferenças no comportamento dos três grandes jornais, (Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo) em relação à cobertura dos candidatos. Tomemos os gráficos da cobertura dos últimos 7 dias.[1]


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As semelhanças são várias:

A mais saliente é um tremendo viés anti-Dilma, representado pela proporção de matérias negativas nas capas dessas publicações, se comparada às negativas recebidas por Marina e por Aécio.

Dilma e Marina são o foco da cobertura, enquanto Aécio foi deixado à mingua. A proporção entre negativas e neutras da cobertura do tucano é baixa se comparada a de Dilma, mas o número absoluto de matérias que tem ele como assunto é muito pequeno.

Quantidade ínfima de matérias negativas para Marina, a despeito de ela ter um número de matérias neutras expressivo.

Dentro de cada semelhança há diferenças mais ou menos sutis. A primeira que chama atenção é o nível de ativação eleitoral diferenciado dos três jornais. Em artigo que já é referência nos estudos de mídia no Brasil, Luis Felipe Miguel[2] aponta para o baixo nível de politização do noticiário da Rede Globo durante a campanha presidencial de 1998, quando Fernando Henrique Cardoso conquistou a reeleição.

A análise feita no MANCHETÔMETRO do comportamento dos jornais impressos no pleito de 1998 mostra, em comparação com o pleito atual (e com outros), a mesma coisa: a grande mídia não se interessou muito por discutir política, no período da campanha eleitoral.

Em 2014, particularmente a partir da entrada de Marina Silva como titular da chapa do PSB, notamos um comportamento heterogêneo dos grandes jornais. O Estado de S. Paulo faz uma cobertura de capa altamente politizada e, ao mesmo tempo, muito enviesada, com os negativos de Dilma atingindo um recorde de 35 matérias na semana e seus neutros 27. Marina é bem menos exposta, com 14 neutros, e quase inteiramente poupada de cobertura negativa: somente um texto.

O Globo, ao contrário de seu comportamento em 1998, também está politizando intensamente a cobertura de capa. O número absoluto de negativas para Dilma na semana é 27, menor do que o Estadão, mas a proporção entre negativas e neutras é bem maior: quase 2:1 n’O Globo e 1,3:1 no Estadão. Basta olhar os dois gráficos acima para constatar a semelhança de suas formas, e o viés ainda mais negativo de O Globo em relação à candidatura do PT.

A despeito das diferenças sutis, o nível de ataque e de viés nesses dois jornais é escandaloso, mais parecem panfletos de campanha do PSDB ou do PSB do que propriamente diários que defendem publicamente critérios de isenção e equilíbrio jornalístico, como ambos fazem.

A Folha de S. Paulo tem um comportamento um pouco diverso. O viés anti-Dilma está presente também e de maneira pronunciada. Na semana, enquanto Dilma foi alvo nas capas, direta ou indiretamente, de 12 matérias negativas, Aécio e Marina receberam somente uma. Mas o nível de politização da cobertura é bem menor do que dos outros jornais. Além das 12 negativas, Dilma tem 12 neutras. Marina acumula 13 matérias neutras, uma a mais que Dilma, ou seja, a Folha é o jornal que na semana mais expôs a candidata do PSB. Em suma, a Folha foi menos enviesada, apesar de estar longe de qualquer coisa que se assemelhe a um equilíbrio de cobertura, e bem menos politizada do que seus concorrentes, ou parceiros.

Quanto à segunda semelhança entre os jornalões, o desaparecimento do candidato do PSDB das capas, não há muito mais o que dizer. Os três se comportam da mesma maneira. Seu nível de exposição é próximo de um terço do de Marina, e chega atingir um oitavo do de Dilma nas capas do Estadão, ainda que devamos pesar que a cobertura da candidata do PT é extremamente negativa, e a de Aécio dominantemente neutra.

Por fim, temos o perfil da cobertura de Marina. A candidata é bastante exposta e o perfil de sua cobertura é quase que exclusivamente neutro, o que muitos especialistas consideram positivo para a campanha. O Estadão é o mais reticente na exposição de Marina. N’O Globo seu número de neutros já está próximo do de Dilma, 12 para 14, respectivamente e na Folha, como dissemos acima, já ultrapassa os neutros da candidata do PT.

A título de conclusão vamos refletir sobre essa análise da cobertura dos últimos sete dias e o perfil da cobertura depois do início do período eleitoral, o terceiro gráfico da página Candidatos do Manchetômetro.


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Marina já acumula no período eleitoral, no qual ela entrou tardiamente, praticamente o mesmo número de matéria neutras de capa que Dilma, 173 a 175. Aécio já ficou para trás, com menos de 70% no acumulado do período do que as outras candidatas têm. A proporção das negativas entre Dilma e Marina, contudo é quase de 3 para 1, com (des)vantagem para a candidata do PT.

Em suma, a semana mostra a consolidação da cobertura dos jornais de uma antecipação do segundo turno. O nível de politização e de viés anti-PT da cobertura de O Globo e do Estado de São Paulo é muito alto, a ponto de não haver mais muito espaço para aumentar. Esses jornais parecem focar todas suas energias no objetivo de barrar a reeleição de Dilma. A saturação e o viés escancarado de sua cobertura, contudo, coloca em dúvida o potencial eleitoral dessa estratégia.

Já a Folha de S. Paulo tem mais “gordura para queimar” se optar pela intensificação da politização e do viés, que já está presente em sua cobertura. Se os padrões de eleições passadas se repetirem, ela vai continuar com esse comportamento de ficar na retaguarda dos outros dois jornais, no que toca o viés anti-PT, tentado preservar, ainda que parcialmente, uma fachada de equilíbrio e neutralidade, enquanto pratica um viés de mais baixa intensidade, ainda que inconteste aos olhos de uma análise objetiva da cobertura.

Se a grande mídia impressa se comporta desse maneira por opção ideológica ou por interesses empresariais, ou ainda por uma mistura desses dois motivos, é coisa que não temos como verificar nesse tipo de pesquisa. Uma coisa é certa, contudo: esse comportamento é extremamente danoso para a saúde da esfera pública e do debate democrático em nosso país.

[1] Os dados foram tomados no dia 25 de setembro de 2014. A atualização é diária e os gráficos semanais capturam os dados dos últimos sete dias.

[2] Miguel, Luis Felipe. “Mídia E Eleições: A Campanha De 1998 Na Rede Globo.” Dados 42, no. 2 (1999): 253-76.

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