‘Boom’ de mercadinhos faz bem à economia. E à vida nas cidades
- Wagner de Alcântara Aragão

- 15 de set.
- 3 min de leitura
Esses pequenos empreendimentos, que surgem em mais de uma centena, todos os dias, no País, são responsáveis por 60% dos postos de trabalho, valorizam as localidades e reduzem uso de transporte
O Brasil tem registrado, em 2025, uma média de 160 novos mercadinhos, mercearias, armazéns ou bodegas abertos por dia. Os dados são de um levantamento do Sebrae, divulgado agora em setembro. Só no primeiro semestre deste ano, foram 29 mil novas unidades do tipo, em todo o país.
Um ‘boom’ que faz bem à economia. E à vida nas cidades também.
Esses estabelecimentos são de micro e pequenas empresas, maiores geradoras de emprego. Segundo o próprio Sebrae, elas respondem por 60% dos postos de trabalho na economia brasileira. Especificamente sobre os mercadinhos, o levantamento constatou que, dos 29 mil novos, 70% são microempreendimentos individuais (MEI).
Em regra, as oportunidades de trabalho nos mercadinhos são ocupadas por pessoas da própria localidade. Já neste aspecto tem-se um benefício não só à economia como à vida nas cidades: emprego perto de onde se mora significa menos tempo de deslocamento. Diminui a demanda por transporte coletivo e a pressão sobre o trânsito.
Esse alívio sobre a mobilidade urbana ocorre também de parte do público consumidor. Quem costuma ir às compras na bodega é a vizinhança. Vai e volta caminhando, não precisa de carro.
Os mercadinhos, mercearias e armazéns tendem a funcionar em imóveis já existentes, que no máximo são reformados, adaptados. Ao contrário dos super e hipermercados, e dos atacadistas, que se instalam em grandes terrenos, muitas vezes derrubando edificações tradicionais na paisagem urbana.
Erguem gigantescas caixas de concreto e pavimentam metros, quilômetros quadrados para implantar pátios de estacionamento. Tornam-se polos geradores de tráfego motorizado, demandando abertura de vias, estreitamento de calçadas, eliminação de canteiros, implantação de rotatórias, viadutos.
Ao redor dessas lojas, não se tem o vai e vem de pessoas se encontrando, aproveitando para frequentar outros estabelecimentos do quarteirão. O que se têm são filas de automóveis, buzinaço, estresse, impermeabilidade do solo, o cinza no lugar do verde das árvores, a ardência do sol sobre o cimento no lugar de sombras.
O armazém local dá identidade ao bairro. Ao contrário da mega rede varejista, transnacional, aquela marca só está presente ali, naquele ponto. Conhece-se o dono; o funcionário por vezes é vizinho, foi colega de escola. Enfim, laços, vínculos, sentimento de pertencimento são estabelecidos.
Há ainda a maior variedade de produtos, inclusive de fabricação local. Dificilmente a confeitaria do bairro vai conseguir expor seus pães e bolos na gôndola de um hiper, atrelado comercialmente à grande indústria, igualmente de origem estrangeira. Mas na mercearia da esquina, sim, é possível negociar com o dono a comercialização lá.
No material jornalístico de divulgação do levantamento, a analista de Competitividade do Sebrae, Jane Blandina da Costa, destaca esses benefícios. “Os negócios de bairro”, diz ela, “são fundamentais porque movimentam a economia local, geram renda complementar para as famílias e aproximam o consumidor de soluções rápidas e acessíveis.”
O levantamento do Sebrae foi obtido a partir de dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal. Para saber mais, acesse <https://agenciasebrae.com.br/economia-e-politica/mais-de-160-mercadinhos-sao-abertos-por-dia-no-brasil/>.
Wagner de Alcântara Aragão é jornalista e professor. Mestre em estudos de linguagens. Licenciado em geografia. Bacharel em comunicação. Mantém e edita a Rede Macuco.
Crédito da foto da página inicial: Wagner de Alcântara Aragão (mercadinho e padaria na região central de Curitiba - PN)






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