Não são poucos os professores e estudantes, em todo o Brasil, que vivem a experiência da expansão das universidades. Muitos trabalham e estudam em polos universitários, resultantes do Reuni.
Grande parte dos professores possui título de doutor e proporciona aulas de alto nível a seus alunos. E estes estão tendo uma formação de qualidade, antes só possível nas grandes cidades.
Ao mesmo tempo, vivem a precariedade da infraestrutura. E, com razão, não se sentem bem com a contradição entre a elevação de sua qualificação e a permanência de baixas condições de infraestrutura. Mas percebem que, apesar disso, formam alunos que jamais teriam cursado a universidade se tal infraestrutura, mesmo deficiente, não estivesse presente.
Em outras palavras, sem o fortalecimento das universidades através do Reuni, incluindo melhoria salarial e perspectiva de carreira, as regiões interioranas de muitos estados não teriam proporcionado ensino superior a centenas de milhares de estudantes.
Apesar das lacunas e deficiências, foi revertido o abandono a que estavam relegadas as universidades públicas.
Mas não é possível reconstruir a educação brasileira num curto espaço de tempo. A desestruturação universitária da ditadura militar, mantida após a democratização, precisará de algumas décadas para ser superada. Os governos Lula e Dilma deram apenas os primeiros passos.
Apesar disso, os impactos sociais, econômicos e políticos desses primeiros passos são visíveis.
Projetos de pesquisa e de extensão, cursos de especialização e mestrado, e outras atividades de ensino hoje são oferecidos aos estudantes do Vale do São Francisco, do interior do Piauí, do litoral do Rio de Janeiro, e de inúmeras outras regiões do País. Algo impensável até poucos anos atrás.
Mesmo assim, uma parte do professorado e dos estudantes está em dúvida quanto a seu voto nas próximas eleições.
Sabem que Aécio e Marina são opções cujo preço significará anos parados à espera que as equipes deles imponham suas novas políticas educacionais.
Políticas que ninguém sabe exatamente quais são, mas cujos sinais preocupantes estão no “enxugamento da máquina” e na “autonomia aeciana” e na “independência marinista” do Banco Central.
“Autonomia” ou “Independência” do Banco Central significa a política neoliberal de juros altos, arrocho salarial, desemprego e baixo crescimento. Tudo tendo como pretexto o controle da inflação.
Aliás, o mesmo pretexto utilizado para justificar o “enxugamento da máquina”, cujo resultado será o sucateamento das universidades públicas, arrocho salarial sobre os professores, e maior privatização da educação.
Como antes, pobres e remediados voltarão a ter a universidade como uma miragem. Permitida a “autonomia” ou “independência” do BC, pouca diferença fará que Aécio refaça o Acordo MEC-USAID, ou que Marina imponha seu fundamentalismo religioso. Diante disso, seria lógico que professores e estudantes votem em Dilma. No entanto, há os que pensam anular seu voto para presidente.
Por quê? Porque o “maior problema” seria ter “um único partido no poder por 16 anos”, partido que teria criado “muitos vícios”. Isto é, “corrupção”, “mensalão”, “alianças” com outros partidos, “empoderamento” de cargos públicos etc., como a grande mídia tem martelado, numa demonstração cabal de ignorância histórica.
Afinal, o PT não está no poder. Está em uma de suas esferas: o Executivo, ou governo. Tem participação, mas não a maioria, em outra esfera, o Legislativo.
Não é o único partido no governo. O governo é de coalizão. Além disso, corrupção, compra de votos parlamentares, alianças partidárias, ocupação de cargos de confiança e outros “vícios” fazem parte da história política brasileira bem antes do PT ser fundado.
O PT não “criou” qualquer desses vícios. Pode-se criticá-lo por não haver lutado com mais decisão contra eles. Ou por não ter sido severo com seus membros que se deixaram levar por tais vícios. Ou por ter sido leniente com dirigentes que foram omissos no combate a eles.
Porém, da mesma forma que a reconstrução da educação brasileira é um processo de luta árdua e de longo prazo, a superação dos vícios de corrupção, alianças espúrias, burocratização e outras más heranças históricas também é um processo de luta dura e incansável, dentro e fora do PT.
Em nenhum dos governos anteriores aos do PT a Polícia Federal descobriu tantos casos de corrupção. Casos que vinham de longe, a impunidade sendo sua marca principal.
Esta é uma guerra muito mais dura do que a que permitiu ao Reuni reverter o processo de sucateamento universitário. A luta contra corruptos e corruptores envolve outros poderes independentes da República, nem sempre em sintonia. E é uma guerra que tem obrigado e ainda obrigará o PT a cortar na própria carne para ser um exemplo.
Em vista disso, a atitude positiva para dar continuidade às mudanças em curso será votar em Dilma. Mas só isso não bastará. A disputa envolve muito mais interesses do que se imagina. As camadas populares, mais do que em junho de 2013, precisarão organizar-se e mobilizar-se.
Só assim, o PT e Dilma, num novo mandato, poderão se empenhar e ter força social e política suficiente para introduzir mudanças ainda mais profundas na infraestrutura universitária e educacional, combater mais eficazmente os “vícios” da sociedade brasileira e se empenhar nas reformas políticas que aumentem a participação popular no controle e nas decisões das diversas esferas do poder: governo, parlamento e judiciário.
Dito isto, no embate atual não basta evitar o voto em Aécio ou Marina. Votar nulo é o mesmo que abandonar as mudanças realizadas. É o mesmo que abdicar da luta por novas mudanças que superem as deficiências da infraestrutura do País e combatam com mais vigor os “vícios” presentes em nossa sociedade.
Na prática, votar nulo ajuda a vitória dos “vícios” praticados, mas escondidos, pela oposição à Dilma e ao PT. Pode ser um suicídio inconsciente. Mas é suicídio.
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