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Foto do escritorFelipe Silva

O dólar cai ou sobe? O que FED tem a ver com isso? – uma breve análise

Atualizado: 22 de ago.


É inigualável o poder dessa instituição norte-americana sobre o universo financeiro, com capacidade de influenciar as taxas de juros ao redor do globo e a estrutura produtiva e a competitividade da economia brasileira


Ao adentrarmos as entranhas da economia brasileira, nos deparamos com um panorama complexo e multifacetado, que transcende as análises convencionais e demanda uma abordagem heterodoxa para compreender seus verdadeiros desafios e potenciais. Nesta reflexão, vamos explorar além das camadas dos efeitos dinâmicos do câmbio e do crescimento do PIB em um contexto mais amplo.


No que tange à esfera cambial, a queda leve do dólar em relação ao real sinaliza uma série de implicações que vão além da simples oscilação das taxas de câmbio. Enquanto os olhares se voltam para os movimentos do Federal Reserve dos EUA, o FED, e suas repercussões no mercado global, é essencial compreender como tais mudanças afetam a estrutura produtiva e a competitividade da economia brasileira.


A taxa de câmbio mais desvalorizada pode impulsionar as exportações, mas também encarece insumos importados, que exerce um efeito latente sobre a inflação e a capacidade de investimento das empresas domésticas, muito além de um diagrama de fases e análises de “elevador”.


A compreensão desse fenômeno é essencial, pois a flutuação do câmbio não ocorre em um vácuo econômico. Pelo contrário, é uma intensa reação também às políticas monetárias adotadas pelo Federal Reserve. É inigualável o poder dessa instituição sobre o universo financeiro global, principalmente desde a presidência de Paul Volcker em 1979. Tem capacidade de influenciar não apenas as taxas de juros ao redor do globo, mas também o comportamento dos investidores e a dinâmica dos mercados em escala exponencial atingindo, inclusive o mercado de commodities.


Isto, de uma forma geral, ensejou um modelo de administração da riqueza que se tornou um paradigma universal em que as finanças operam em um contexto global com uma hierarquia estabelecida a partir dos tentáculos do sistema financeiro dos Estados Unidos e sustentada por sua política monetária, mimetizada pelo mundo todo.

Por outro lado, o crescimento do PIB do Brasil, embora modesto, revela nuances importantes sobre a saúde econômica do país.


O protagonismo do setor agropecuário no impulso do crescimento evidencia não apenas a força do agronegócio brasileiro, mas também as disparidades estruturais que permeiam outros segmentos da economia, que, para além da quase injustificável falta de credibilidade da política industrial, não tem nenhum outro dispositivo para reverter os trilhos do baixo crescimento econômico e tímida produtividade industrial.


Enquanto alguns setores desfrutam de um crescimento robusto, outros enfrentam desafios persistentes, como a falta de investimentos em infraestrutura, a burocracia excessiva e a falta de políticas de incentivo à inovação.


A queda nos investimentos, especialmente em máquinas, equipamentos e construção civil, suscita preocupações profundas sobre o futuro da economia brasileira. A baixa taxa de investimento reflete não apenas a incerteza dos agentes econômicos, mas também a falta de um ambiente propício ao desenvolvimento de projetos de longo prazo.


As barreiras regulatórias, a instabilidade política e as dificuldades de acesso ao crédito são apenas algumas das questões que minam a capacidade do país de atrair investimentos domésticos e estrangeiros.


Em um contexto mais amplo, as perspectivas econômicas do Brasil estão intrinsecamente ligadas à sua capacidade de promover uma transformação estrutural que vá além do mero crescimento quantitativo. O desenvolvimento econômico sustentável requer não apenas taxas de crescimento robustas, mas também uma distribuição mais equitativa da riqueza, investimentos em educação e saúde, e políticas públicas que promovam a inclusão social.


Nesse sentido, o imperativo de adotar uma abordagem que vá além dos modelos convencionais parece estar engatinhando nesse percurso, mas ainda requer estruturas para a complexidade e a diversidade da realidade brasileira, que atravessem, sobretudo, os produtos financeiros de renda fixa que indexam retornos sobre crescimento tímido e inflação mais alguma coisa – que muito diz respeito aos efeitos cambiais.


Isso, no fundo, está associado à especificidade das transformações contemporâneas na incessante internacionalização do capital, que acelera a finança e freia o desenvolvimento.


Felipe Silva é graduado em Relações Internacionais e Economia pela FACAMP e doutor em Economia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Desenvolve pesquisa relacionadas a macroeconomia, finanças internacionais e conjuntura.



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