O imperialismo não afirma os conflitos, mas os incentiva no campo da economia e da política. Quem manda no dinheiro, nas armas e na tecnologia, manda no mundo. Juliane Furno tem razão em afirmar que o imperialismo do nosso tempo é, sobretudo, norte-americano
No livro “Imperialismo: uma introdução econômica” (Editora: Da Vinci Livros), a economista Juliane Furno prospera na apresentação histórico-teórica de um dos conceitos mais fundamentais das ciências sociais: o imperialismo.
O passeio pelos autores clássicos da teoria do imperialismo induz à sua atualidade: o aperfeiçoamento do capitalismo, que exibe em seu “estágio superior” as formas dinâmicas de um espaço global comandado pelo capital financeiro, produz a subordinação das soberanias e liberdades à lógica expansiva da acumulação de riqueza.
A camisa de força que aprisiona o ideal do desenvolvimento econômico e social adquire novas camadas: a liberação dos mercados, comandada pelo domínio ideológico neoliberal, posiciona a luta de classes entre os acumuladores de riqueza associados ao poder tecno-militar dos Estados Nacionais e os trabalhadores submetidos ao desemprego, à precarização e ao complexo de patologias sociais, incitadas como mecanismos de controle do trabalho – o hiperconsumismo, a violência urbana e a substituição da cultura pelos moldes plastificados da indústria do consumo.
Subordinar a força de trabalho em nível global é, então, o substrato da política imperialista que, mediante a lógica financeira, molda os espaços nacionais através da elevação do nível produtivo e tecnológico das nações centrais e a extração de valor das nações cujo excedente produtivo nasce nos setores de bens primários e de serviços.
A escultura é de um mundo onde os interesses supranacionais das elites colocam a disputa no plano geopolítico como uma questão de sobrevivência que, em seu curso, suprime as soberanias.
O imperialismo não afirma os conflitos, mas os incentiva no campo da Economia e da Política. Quem manda no dinheiro, nas armas e na tecnologia, manda no mundo.
E, nisto, Furno tem razão em afirmar que o imperialismo do nosso tempo é, sobretudo, norte-americano.
O papel dos EUA no pós-guerra foi decisivo na acentuação das distâncias entre o centro dinâmico e a periferia a ele acoplada. Lá, no centro desenvolvido, as sociedades se fixaram em torno de um estilo de vida que privilegia a liberdade de escolha, isto é, o acesso ao progresso técnico e social plasmado pela ordem democrática e pela economia de mercado. Entre nós, as plutocracias consolidaram uma ordem antinacional e antissocial de dominação.
A globalização financeira e o espalhamento da produção ao longo das cadeias globais de valor trataram de aprimorar o controle do capital mundializado sobre o trabalho, cada vez mais fracionado e incapaz de se organizar contra a ordem que o consome.
O Imperialismo sobrevive como organismo que invade os corpos de resistência social e coletiva, retesando os interesses nacionais como desdobramento dos interesses do capital.
Neste sentido, são urgentes as medidas de oposição ao imperialismo, não como forma de correr contra uma avalanche que engole todos que estão em seu caminho, mas empreender uma luta pela soberania e pelas liberdades. Condições sem as quais a vitória já está posta do lado de lá da cerca, quer dizer, do lado endinheirado que dispõe dos meios de dominação e controle sobre o destino dos povos.
O livro de Juliane Furno vem na emergência de entendermos tais questões e, sobretudo, recuperarmos criativamente rotas distintas daquelas que o imperialismo nos legou.
Nathan Caixeta é economista pela FACAMP, mestrando em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp e pesquisador do Núcleo de Estudos de Conjuntura da FACAMP (NEC/FACAMP).
Crédito da foto da página inicial: Divulgação
Comentarios