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Foto do escritorBrasil Debate

Duas políticas para a universidade pública

O importante é desconfiar sempre e nunca perder de vista a realidade concreta particular, como sempre insistia o autor de O Capital.

A manipulação pela grande imprensa procura fixar opiniões gerais nos leitores, ouvintes e espectadores, sem qualquer comprovação ou base concreta específica. Por isso ocorre o contraste verificado nas opiniões, tão logo se questiona uma situação concreta e determinada. O exemplo clássico é o já muito citado caso do contraste entre respostas a questões do tipo “Como vai o País?” e “Como vai a sua vida?”.

Muito já foi divulgado acerca da diferença entre as políticas para o ensino superior do governo tucano e do governo petista. Este mesmo espaço do Brasil Debate já ofereceu excelentes contribuições, mostrando os inegáveis avanços nos últimos 12 anos.

Aproveito para acrescentar minha experiência pessoal concreta e específica neste caso.

Durante um período do governo do PSDB e durante um bom tempo do governo do PT, fui membro do Conselho Universitário da Universidade Federal de São Carlos. Pude assim acompanhar de perto a situação da instituição.

O governo tucano foi marcado por oito anos no Ministério da Educação pela figura de Paulo Renato Souza (professor da Unicamp) de triste memória. Ele se dedicou a seguir à risca o nefasto receituário da reforma universitária pautada pelo Banco Mundial a partir de Washington: estímulo à privatização do ensino superior e abandono do sistema público.

Com FHC, a educação deixou de ser um fim estruturante: a política educacional foi inteiramente subordinada à política econômica e à sua lógica.

O resultado foi uma universidade de joelhos, como não ocorreu sequer na ditadura. Expansão zero do sistema federal de ensino superior. Houve arrocho salarial (muitos anos de reajuste zero: entre 1995 e 2002 houve uma perda de valor real de 38% nos salários) e o congelamento do valor das bolsas de estudo.

Ocorreu a contenção no quadro de docentes e servidores (praticamente nenhum contrato novo e nenhuma substituição de aposentados) com a criação do precário quadro do “professor substituto”, uma espécie de “horista” federal.

Prevaleceu o tratamento a pão e água no custeio e no investimento das instituições (no final do ano, o Conselho Universitário suava para conseguir contemplar as contas atrasadas de luz, água e telefone). Recursos para aquisição de livros? Bolsas para alunos? Alojamento estudantil? Equipamentos de laboratório?

A política de desenvolvimento dependente e subordinada seguida nos anos FHC (professor da USP) colocou em segundo plano a pesquisa no País: o que era importante viria de fora, dizia-se.

As universidades federais deveriam parar de se dedicar à investigação científica, com poucas exceções. Isso demonstra como é uma farsa a pretensa política tucana de seguir padrões de competência e mérito! E o ensino? Bem, conforme disse FHC, só “vira professor o coitado que não consegue fazer pesquisa”…

Obviamente, tal penúria não combinava com diálogo com as universidades. Exigia-se mão de ferro. Um reitor da época relatou o único encontro que o ministro teve com os dirigentes federais, logo no início de sua gestão: mandou retirar todas as cadeiras de uma sala de reuniões com exceção da sua própria, obrigando os reitores a ouvirem de pé seu longo discurso, após o que se retirou de imediato e deixou um auxiliar para responder eventuais perguntas.

Para completar sua política contra as universidades federais, nos últimos meses do governo o ministro apressou-se em facilitar a abertura à privatização da educação: liberou a criação de 149 instituições e 821 cursos de ensino superior privado.

Foi o maior crescimento sem qualquer critério de mérito (novamente a farsa do discurso tucano da competência!) de faculdades e universidades com fins lucrativos já registrado em nossa história, fortalecendo de modo inédito o lobby das mesmas.

Que diferença com o governo de um operário sem formação acadêmica, que logo ao assumir convocou todos os reitores das instituições federais a Brasília para um contato direto e cordial…

Durante o governo do PT, houve uma importante mudança na relação com a comunidade universitária, que se envolveu diretamente na expansão do sistema. Houve uma recuperação salarial para docentes e servidores, bem como o aumento significativo do quadro de pessoal: de menos de 50 mil em 2002 passaram a mais de 75 mil em 2013. Hoje os salários recuperaram o nível real de 1995, embora ainda muito aquém do necessário.

Ainda não é uma maravilha, mas houve uma grande expansão com o programa Reuni, com 18 novas universidades, das quais 4 no governo Dilma (contra zero no governo FHC).

Junto com grande expansão nas instituições já existentes, mais do que dobrou o número de matrículas: hoje são 325 mil vagas, e 1140 mil alunos matriculados na rede federal de ensino superior.

O orçamento da educação passou dos cerca de 4% que foi durante o governo tucano até 2002, para 6,2% em 2013. O Enem é usado no lugar dos vestibulares e se generalizou uma política de cotas raciais e para os provenientes do ensino público.

O valor das bolsas da Capes e do CNPq, antes congelado, aumentou 67%. Criaram-se 71.400 bolsas de graduação para estudantes no exterior e houve 850 mil bolsas integrais de graduação pelo Prouni. A produção científica nas universidades federais quadruplicou em relação a 2002, atingindo 24.400 publicações em revistas internacionais em 2013 (as estaduais paulistas, referência nesse caso, aumentaram cerca de 2,5 vezes no período).

Agora existem as condições dinâmicas para um crescente desenvolvimento das universidades com competência e justiça social, totalmente ausentes no período tucano.

Quem foi, é ou pretende ser da comunidade acadêmica e vota em Aécio, bom sujeito não é: ou é ruim da cabeça, ou tem má-fé…

Crédito da foto da página inicial: EBC

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