Os dados mostram que o número de domicílios vagos no país cresceu 87% entre 2010 e 2022, somando 11,4 milhões. Além disso, temos hoje 15 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, boa parte sem sistema de transporte coletivo de massa
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou em 28 de junho último os dados do Censo Demográfico. De imediato, o levantamento mostra que temos, entre tantos, dois desafios urgentes: resolver o problema de moradia e dotar o país de sistema de transporte público eficiente.
Se não, vejamos. O IBGE aponta que o número de domicílios vagos no país cresceu 87% entre 2010 e 2022. São 11,4 milhões de unidades habitacionais sem ninguém ocupando. Ao mesmo tempo, cresce a população de rua, conforme percebemos em marquises, pontes e viadutos de cada cidade. Isso sem falar nas moradias indignas (cortiços, palafitas, encostas).
Por que? O que acontece? Como é que pode tanta gente sem teto e tanto teto sem gente?
O IBGE calculou também que somos mais de 203 milhões de pessoas vivendo no Brasil. Ao conferir as 15 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, verificamos que boa parte delas não dispõe de sistemas de transporte coletivo de massa. Ou, quando existem, estão muito aquém da demanda.
Tomemos o caso de Guarulhos. É a segunda cidade com mais habitantes no Estado de São Paulo, 1,2 milhão. Exceto pela linha de trem que chega até próximo ao aeroporto, cuja funcionalidade é ligar esse terminal aeroviário à capital, e não servir de opção de modal urbano, a cidade não conta com nenhum serviço de grande capacidade: metrô, VLT, BRT, monotrilho, nada.
Manaus e Curitiba, respectivamente a sétima e oitava colocadas no ranking de cidades brasileiras com mais habitantes, igualmente carecem de opções que suportem o fluxo.
A capital paranaense até conta com extensa malha de BRT – foi pioneira no Brasil, neste modal, o que lhe deu fama. Hoje, apesar do imaginário de cidade modelo no quesito transporte coletivo, na prática o adjetivo não se confirma.
Os ônibus de Curitiba há um bom tempo não dão conta de tanta gente, nem acompanharam a expansão urbana para porções norte-nordeste e sul-sudoeste da cidade, menos ainda para os municípios vizinhos, da região metropolitana. Há mais de 20 anos fala-se em metrô, porém, de tantas promessas não cumpridas, é tida entre os moradores como lenda urbana.
No horizonte, há sinais de que poderemos enfrentar de vez esses problemas. O Minha Casa, Minha Vida, retomado, parece que vem forte. Em breve, o presidente Lula deverá anunciar a recriação do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), cuja versão mobilidade urbana (PAC Mobilidade Urbana) teve impulso considerável na gestão Dilma Rousseff. Que volte com tudo, também.
Wagner de Alcântara Aragão é jornalista e professor. Mestre em estudos de linguagens. Licenciado em geografia. Bacharel em comunicação. Mantém e edita a Rede Macuco.
Crédito da foto da página inicial: Nara Quental
Comments