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Campanha salarial e crescimento econômico

As adversidades do momento são enormes e complexas. Não há alternativas fáceis e a ausência de saída, por meio do crescimento econômico, poderá significar mais um longo período de letargia, semelhante àquele vivido nos anos 1990. Pela frente, há o risco de desemprego, queda dos salários, desestruturação do sistema de proteção social, informalidade, precarização, entre outras sequelas econômicas e sociais bem conhecidas.

Como a sociedade reagirá a um retrocesso como esse? Quais as expectativas criadas pela inclusão social e expansão do consumo na última década?

Há dois vetores que deveriam orientar a luta pela transição rápida e pela sustentação duradoura do crescimento: o primeiro, manter o emprego e a renda para garantir e ampliar o mercado interno de consumo de massa; o segundo, mobilizar a máxima capacidade para recuperar o investimento público, de forma articulada com o investimento privado.

Esses dois vetores estruturam a demanda e mobilizam a capacidade empreendedora para produzir e crescer.

A trajetória de crescimento precisa vir acompanhada de um projeto de desenvolvimento focado em reformas estruturantes, que modernizem o Estado, com reforma tributária, simplificação institucional e administrativa, transparência e governança, reforma política e eleitoral, aperfeiçoamento do sistema de relações de trabalho (fortalecimento da negociação coletiva, solução ágil de conflitos, aumento da representatividade), entre tantas outras mudanças.

Em curto prazo, a ação sindical tem o desafio de conduzir as campanhas salariais em um contexto muito adverso. Uma pesquisa divulgada pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), disponível no site da entidade, com os resultados das negociações dos reajustes do 1o semestre, revela que há mudanças em curso.

A inflação mais alta e a recessão têm colocado novos limites para os aumentos salariais. Ainda assim, o movimento sindical conseguiu resultados robustos diante da enorme adversidade: mais de 2/3 das negociações foram concluídas com aumento salariais no período analisado.

Nessa frente de luta, há um desafio fundamental: desenvolver campanhas salariais que coloquem no debate, com o empresariado, a comunidade e os governos, a importância da manutenção dos empregos e dos salários para a constituição da massa salarial, que sustenta ¾ do mercado interno de consumo, parte essencial da formação da demanda que anima o investimento empresarial e incrementa o nível de atividade econômica.

É preciso disputar, para se formar a opinião pública sobre o papel do emprego e dos salários na mobilização do crescimento do país, condição essencial para se superar as graves desigualdades sociais existentes na cidade e no campo brasileiro.

Há um país a ser reconstruído. É preciso criar demanda para uma atividade produtiva que propicie condições para gerar o bem-estar social e a qualidade de vida. O tipo de crescimento, que é também uma oportunidade estratégica, pode e deve ser mobilizador da inovação que modifica, mas preserva o meio ambiente.

Há, portanto, um enorme espaço para o crescimento com sustentabilidade ambiental. Isso exige aumento dos investimentos público e privado, que geram emprego e renda, melhoram a capacidade fiscal do Estado, enfim, abrem espaço para um movimento virtuoso de crescimento sustentado pelo investimento e pela capacidade distributiva do Estado e dos sindicatos.

O movimento sindical tem o desafio de recolocar no centro da estratégia econômica de crescimento e de desenvolvimento o emprego e os salários como elementos dinamizadores de um grande mercado interno de consumo em permanente formação, expansão e disputa. As campanhas salariais são uma oportunidade ótima para promover essa agenda.

Crédito da foto da página inicial: CUT

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