top of page
fundo.png
Foto do escritorBrasil Debate

Câmbio, lucros, estrutura de mercado e inflação

Operam no Brasil diversas empresas dos mais variados ramos cujo capital é estrangeiro, desde restaurantes fastfood até a produção de tecnologia de ponta. Tais empresas regularmente remetem lucros às matrizes e, para tanto, trocamos Reais em que lucram por moeda estrangeira. Logo, a taxa de câmbio é uma variável essencial para a determinação da renda a ser enviada ao exterior.

Por sua vez, nosso mercado de câmbio está bastante volátil e com uma constante tendência de desvalorização do Real por causa dos movimentos especulativos relacionados à conjuntura internacional, em que os investidores criam oscilações nos preços dos ativos no mercado financeiro para realizar ganhos de curtíssimo prazo.

Como se não bastasse, os investidores também estão atentos à possibilidade de redução e finalização do Quantitative Easing praticado pelo Fed, o Banco Central Americano. Com o fim da expansão monetária praticada há 5 anos, os juros pagos nas dívidas em dólar aumentam, reduzindo a diferença entre os juros brasileiros e os americanos. Isso leva a um refluxo de moeda estrangeira do mercado cambial brasileiro, bem como dos mercados emergentes em geral, desvalorizando nossa moeda.

Pois bem, o ponto que queremos explorar é que a conjugação destes processos – a forte presença de empresas estrangeiras no País e a desvalorização cambial – pode trazer impactos inflacionários ao Brasil no curto prazo, que não se relacionam imediatamente ao efeito do câmbio desvalorizado sobre os custos de produção.

Dentre os impactos negativos da desvalorização cambial, o mais conhecido deles é o efeito passthrough câmbio-inflação, isto é, o efeito da variação cambial sobre os preços domésticos, causado pelo encarecimento dos insumos importados ou precificados em dólar. Não é por menos que entre 2002 e 2004, a inflação dos preços administrados, muito sensíveis ao câmbio, esteve acima da verificada nos preços livres, algo que se inverteu após o câmbio a se valorizar.

Contudo, o impacto da desvalorização do câmbio sobre os preços domésticos que se quer ressaltar aqui é outro. Em setores oligopolizados com ampla presença de capitais estrangeiros, em que a concorrência via preços não é prevalente, a depreciação cambial pode ocasionar pressão inflacionária mesmo sem que se tenha impactado os custos de produção, mas apenas pelo fato de os lucros em Reais tornarem-se menores em moeda estrangeira.

A ideia pode ser tomada por analogia aos investidores estrangeiros em mercados financeiros, que pedem juros mais elevados para enfrentarem o risco de desvalorização cambial. Neste sentido, os capitais produtivos também embutirão em seus preços uma margem que recomponha, mesmo parcialmente, diminuições do lucro em moeda estrangeira.

Esse fenômeno pode ser mais intenso quando (i) a empresa autofinancia suas operações no exterior com receita obtida no Brasil; (ii) nos casos em que houve contratação de financiamento no exterior; (iii) quando o reajuste de preços para manutenção dos lucros em Dólar ocorre em produtores de insumos, o que desencadeia choque de custos em outros ramos; (iv) e quando se acumulam, em uma mesma empresa, insumos mais caros pelo passthrough e lucros menores em moeda estrangeira.

Existem instrumentos financeiros que permitem a proteção cambial. Porém, caso a volatilidade da taxa de câmbio intensifique-se, algo bastante experimentado atualmente, os contratos futuros reduzirão sua maturidade e terão tendência altista sobre o câmbio futuro, não diminuindo a pressão para reajuste dos preços domésticos.

Dada a internacionalização de diversos ramos do parque produtivo brasileiro, que torna mais sensíveis os preços domésticos ao câmbio,os impactos do câmbio sobre a inflação podem ser intensificados no curto prazo.

Crédito da foto da página inicial: Agência Brasil

Comments


bottom of page