Está em curso desde 2014 uma diminuição do recurso para C&T. Ela foi acelerada brutalmente em 2016 por uma coalizão política que representa forças que, entre tantas outras, não concordam com a política de C&T que vinha sendo implementada. Entre outras diatribes, ela associou, aproveitando o que pensa o senso comum, ciência e tecnologia a comunicações. Entre outras diatribes, ela associou, aproveitando o que pensa o senso comum, ciência e tecnologia a comunicações.
Ao rebatizar o ministério, ela pretendia encobrir as falcatruas que vieram à tona nesta última área. E, como se não bastasse, o entregou a um pastor criacionista depois substituído por outro ministeriável. A mesma coalizão, depois de algumas ameaças verbais feitas no ano passado, vem realizando cortes, explícitos ou não,em alguns estados.
A justa censura da comunidade de pesquisa que vem tendo suas atividades de C&T (a pesquisa científica e tecnológica, a formação de pessoal em ciências duras dela decorrente etc.) cerceadas merece ser complementada por uma análise mais detida das raízes desses eventos. É o que tento fazer aqui como um dos colegas dessa comunidade que vêm salientando que as forças políticas que integram coalizões dessa natureza não merecem(nem precisam!)do potencial tecnocientífico que temos ajudado a construir.E que a justificativa dos líderes de nossa comunidade para legitimar “sua” política de C&T tendia a ser rejeitada.
O texto visa a contribuir para que estratégias politicamente realistas e eficazes possam ser formuladas por esses colegas para enfrentar essa situação. Sem que tenhamos contribuído para ela – pelo contrário, nós a anunciamos – sabemos que ela afeta a toda a comunidade de pesquisa, nossos estudantes e funcionários e o povo brasileiro. Ou seja, os que precisam se mobilizar para construir uma nova relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade.
(…) Se desde a segunda metade dos anos de 1990 as empresas brasileiras (incluindo as multinacionais aqui localizadas) estavam acedendo a um recurso público para P&D e, em geral para inovação, crescente, se o salário real, desde meados dos anos 2000 estava aumentando, chegando a quase duplicar, e se sua demanda, fruto, inclusive deste aumento estava em crescimento, qual era o comportamento que delas seria legítimo esperar?
Elas iriam inovar! Porque dessa forma, aumentando a mais-valia relativa, elas poderiam lucrar cada vez mais. O que se viu, entretanto, foi algo bem distinto. Rompendo as regras do jogo institucional, o empresariado preferiu proteger-se do que considerava uma ameaça política à sua taxa de lucro (uma das mais altas do mundo, a julgar pela taxa de juro que temos) apostando no aumento da mais-valia absoluta.
Ou seja, passou a apostar na cadeia sistêmica de eventos que relaciona de modo realimentado diminuição do investimento, queda do emprego que reduz salários, relaxamento da legislação trabalhista, aumento da jornada, elevação da idade de aposentadoria etc. O aumento da propensão à inovação e à realização de P&D que esperava a comunidade de pesquisa não ocorreu.
O empresariado, liderado pela sua parcela mais afinada com os “interesses globais”, optou, face a uma tendência de desindustrialização “sem volta” e a um cenário global crescentemente adverso ao nacional desenvolvimentismo, por trilhar um caminho que prescinde das atividades de C&T (e mesmo da formação de pessoal universitário) realizadas pela comunidade de pesquisa.
Leia a íntegra deste artigo, intitulada “A diminuição do recurso para C&T: uma análise para elaborar estratégias”, em PDF: Estratégias para C&T
Crédito da foto da página inicial: EBC
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