O problema do balanço da Petrobrás não poderia ter nome mais sugestivo, quiçá artístico. Se fosse um filme de terror, teria uma sinopse do tipo “uma mão invisível que balança o berço do desenvolvimento nacional”. Quem sabe poderia ser um remake de um filme Disney. Em um novo Rei Leão, a Petrobrás seria o Simba, as “sete irmãs” o vilão Scar e a pedra do reino o Pré-sal. Os entreguistas, as hienas!
Ou mesmo a poeta contemporânea Valeska escreveria uma música sobre… A diva Petrobrás, que teria que proteger seu boy magia Pré-sal “dazinimigas” internacionais… O beijinho no ombro foi bem dado com o balanço!
Brincadeiras à parte, o problema com o balanço não auditado era realmente grave. O caminho ousado de mega investimento escolhido pela companhia trouxe grande injeção de capital financeiro e muitos riscos, a maioria já inerente ao mercado de óleo e gás. Uma mistura que não combina com incertezas e desconfianças, características de um processo de corrupção que, aparentemente, acontecia há décadas.
Esses ingredientes poderiam trazer um cenário catastrófico para a empresa, como cobrança antecipada de dívidas e baixa captação de recursos. Era muito importante que a Petrobrás superasse esse desafio sem grandes mazelas e bom que assim o fez.
Aliás, felicidade para uns e tristeza para outros…
Desde que esse quadro de instabilidade se instalou na petrolífera brasileira, alguns agentes políticos e econômicos desejaram, sem disfarçar, a queda da companhia. Assim, com a estatal fora do jogo, teriam seu caminho ao tesouro negro mais facilitado.
É por isso que Bendine e sua diretoria/conselho acertaram em escolher uma maneira conservadora de realizar o balanço: prepararam o terreno para as piores hipóteses, que por ventura ainda podem aparecer nessa incógnita Lava Jato, sabendo que no longo prazo o que irá sobressair serão os bons resultados, que, verdade seja dita, já aparecem mesmo que timidamente.
Foi uma atitude de humildade da empresa, daquelas que os sábios fazem muito bem: reconheceu o erro e apresentou aos seus adversários uma adversidade superestimada, sabendo que tem totais condições de virar o jogo e seguir sua evolução. Em outras palavras: deu um número para seus inimigos gastarem tempo especulando, enquanto se concentra numa causa maior: explorar, produzir, refinar e vender como nunca, puxando o carro para o crescimento e desenvolvimento do País.
As perdas com o impairment (ou deterioração dos ativos) em si é tão instável quanto foi o mercado do petróleo em 2014. Assim, sem um estudo bem detalhado (só as notícias não são suficientes) fica difícil cravar se sua escolha foi puramente técnica ou teve fatores políticos (parece ter havido fatores extra contábeis, mas como não escrevo para nenhum grande jornal, prefiro deixar clara a dúvida).
Todavia, o método escolhido para encontrar as perdas por desvios certamente foi superfaturado, o que aponta uma postura conservadora da Petrobrás, que se mostrou mais preocupada com sua imagem e sua proteção jurídica do que com o número em si.
Explico minha certeza de que o valor de R$ 6,2 bilhões foi inflado fazendo a comparação entre a metodologia utilizada em contraste com o que realmente (e oficialmente) sabemos da operação Lava Jato. Segue o raciocínio:
A empresa considerou “percentual de 3% sobre contratos de 2004 a 2012 com 27 empresas” com base em depoimentos da Lava Jato. Todavia, a delação mais semelhante à metodologia aplicada, do ex-diretor Paulo R. Costa, foi mudada recentemente. Dessa maneira, os depoimentos agora convergem para uma versão de que não houve sobrepreço nas obras.
Duque e Cerveró não participaram da delação premiada e Barusco não indicou nada sobre 3% de superfaturamento. Sobram, assim, as versões de Costa e das empreiteiras, que, atualmente, coincidem e consideram que houve, na realidade, “subpreço” nas obras.
Assim, fica a avaliação de que a operadora única do Pré-sal escolheu a maneira mais conservadora de avaliar suas perdas de corrupção: pegou o pior depoimento, que sequer é oficial hoje em dia, e calculou as suas perdas. Mas a escolha não poderia ter sido melhor, pois os números do balanço de 2014 mostraram que a Petrobrás tem totais condições de sair desse cenário nefasto ainda mais forte. Os resultados operacionais foram bons, as premissas para 2016 são positivas e o retorno das reservas do Pré-sal possuem ótimas perspectivas.
Só uma empresa com muita confiança em seu trabalho e em seus resultados tentaria uma jogada de tamanha ousadia. Só uma companhia com o corpo técnico altamente comprometido e qualificado apresenta essa convicção, de que – apesar dos abutres, entreguistas, concorrentes e pessimistas – ainda será uma das maiores petrolíferas do mundo.
Por fim, o Brasil ainda há de agradecer: Obrigado, Petrobrás, pelos empregos, infraestrutura e verbas para saúde e educação. E, principalmente, obrigado por essa ajuda fundamental no combate a corrupção.
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